Atores

Primeira temporada...

ENTREVISTA: Valécio Santos.
Valécio Santos, mais conhecido na noite soteropolitana com a personagem Valerie O'rarah, encara um novo desafio na sua carreira ao compor Shirley, figura central do espetáculo Transmetrópolis dirigido por Filipe Harpo. O grande desafio de Valécio foi desconstruir os arquétipos de Valerie e construir uma Shirley bem diferente da sua outra personagem. A seguir nesta breve entrevista, ele nos fala sobre o processo, de como construiu a personagem e também das diferenças do seu trabalho com Valerie e com Shirley...
Como Shirley chegou até voce?
O convite foi feito pelo direto Filipe Harpo, depois de algumas tentativas com outros atores que não puderam ou se encaixaram adequadamente com o perfil da personagem. O elenco já estava formado e os ritmos de ensaios avançados. Ele fazia sofrer algum tipo de pressão por esta perto do dia da leitura dramática. Mas nada que com o tempo corresse tudo devidamente bem. 
 Voce é mais conhecido pelo seu trabalho com a arte do transformismo. O seu trabalho é muito ligado ao improviso e a ligação direta com a platéia. Como está sendo a experiência de trabalhar em Transmetrópolis, algo diferente feito por voce até então?
TRANSMETROPOLIS tem uma carga dramática maior, o peso de contar o drama do casal, a historia que tem começo meio e fim, os conflitos sexuais que são levados diretamente para o publico, tem essa responsabilidade. Diferente de todos os outros trabalhos teatrais que já fiz, minha experiência era com o humor e muito mais com a improvisação no palco como transformista. Tenho aprendido a cada dia com os meus companheiros de cena. Mas acredito que essa nova experiência seja um complemento tanto para o improviso quanto para o texto fixo. 
Sua personagem, a Valerie O’rarah, é famosa no mundo LGBT da cidade. Trata-se de uma personagem marcante que todo mundo já viu. O que tem feito para diferenciar Valerie da personagem Shirley em Transmetrópolis?
Valerie é conhecida pela estética forte (afro pop brasileira), com personalidade e força de expressão faz com que caia no gosto popular. Já Shirley é uma mulher com peito e pau, chega ser redundante quando se fala de uma travesti, mas, exatamente assim uma MULHER com suas determinações, seus romantismos, sua garra e vontade de viver... Ideologia de vida normal no corpo de uma travesti. Compor Shirley é apreciar os sabores de contraste que ela tem. ‘manso ou atroz, doce ou feroz’
Poderia falar um pouco sobre Shirley e o que ela possui de diferente do arquétipo de travesti geralmente mostrado pela mídia?
Minha resposta anterior define Shirley e suas qualidades, Shirley não é a que vemos na mídia, nas pistas e nos centros das grandes metrópoles. Shirley compõe valores familiares e morais, ela celebra o matrimonio, ela é mulher de um homem só e existe essa travesti que se mantém longe da prostituição com a estrutura de um relacionamento estável.  Em TRANSMETROPOLIS, Shirley é a mais coerente, decidida e “normal da historia”. Minha Shirley é a Shirley.
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Ronei Silva não pára. Além de fazer parte do elenco de Transmetrópolis, o ator divide o seu tempo com os ensaios de A Gota D'água ( clássico de Chico Buarque) dirigido por George Vladimir e as aulas no Curso de Interpretação da UFBA. A seguir, Ronei fala sobre aquele que é odiado na trama pelos personagens e também pelo elenco... Moisés! Um ex gay cristão que chega virando de cabeça para baixo, mais ainda, a vida de Shirley e Alberto.


Filipe Harpo (autor e diretor de Transmetrópolis) convidou você a participar do espetáculo para interpretar o personagem Moises. Como foi o seu primeiro contato com este personagem?

De inicio achei um tanto curioso, desafiador, porém ainda com toda vontade fiquei com receio de fazer esse tipo de personagem devido a forma como ele age durante o espetáculo e senti muitas vezes raiva do que ele relata de forma forte e preconceituosa.

Fale um pouco do seu papel e a história dele na trama.

Moisés é um gay que tenta fugir dessa realidade, tenta ser uma coisa que não é. O psicológico dele está abalado. Por esse motivo busca a clinica que trata pessoas com “transtornos sexuais”. O que me deixou mais a vontade com o personagem foi encarar a verdade de frente, as informações que Moisés conta fazem parte do cotidiano de muitos  gays. Por medo de serem expulsos de casa, sofrerem homofobia, acabam tentando fugir por outros caminhos. Acabam não se aceitando. Tudo isso deixa o ator ligado direta ou indiretamente através da reação da platéia.
Dentro do processo de montagem, Moises geralmente não é quisto tanto pelos  personagens da trama como pelo elenco em si. Em sua opinião, porque Moises provoca tanto incomodo?

Justamente por ser uma pessoa insegura, venenosa, ele não aceita o fato de ser gay, sempre ofendendo o casal da trama Shirley e Alberto, com passagens bíblicas e tentando também sondar a vida deles.

A partir de Moises, Transmetrópolis fala sobre clinicas de recuperação de homossexuais tendo como base a religião. Como você enxerga a Bons Hábitos, clinica citada no texto, na vida do seu personagem.

Uma farsa. Moisés busca um ser inexiste dentro de si. As pessoas que buscam tal lugar querem fugir, se camuflar, seja por desespero ou por preconceito acabam fazendo “mutilações” em si mesmas, tentando alterar esses comportamentos. No caso de Moisés é ser gay. Pior é saber da ajuda de certos seguimentos religiosos para tamanha incompreensão do comportamento humano. Ser gay é absolutamente normal.
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A atriz Vanessa Cardoso foi convidada já no finalzinho,a pós a leitura dramática de Transmetrópolis no Espaço Xisto Bahia em abril deste ano. A atriz o ano passado esteve nos palcos com a montagem de O Pleito dirigda por Ramon Reverendo.  Prestes a estrear Transmetrópolis, Vanessa nos fala um pouco de seus* personagens, que são uma surpresa do texto, tentando não revelar muito para não perder toda a graça da história.

Você chegou faltando muito pouco para o espetáculo estrear. Qual o desafio de pegar um persongem desta forma?

Todos, de conhecer o texto,  me enturmar com grupo que já participa do processo desde o inicio, e de fazer um laboratório de dois personagens que não tem nada haver comigo, mas a turma me acolheu muito carinhosamente, e o laboratório pego alguns detalhes de pessoas que conheço, e de personagens da rua do dia-a-dia.

Em Transmetrópolis, você interpreta duas versões do masculino e do feminino, em um mesmo corpo... como está sendo este processo para voce?

É um  grande desafio, estou brincando muito  com isso, horas eu faço um personagem, horas faço outro, na rua, nas roupas que vou vestir, no supermercado, enfim meu laboratório é onde  eu estiver. Teve um dia que fui ao ensaio com uma mistura dos dois personagens (risos), e ficava observando as pessoas  olhando tentando me decifrar. Achei uma delícia, até o diretor me perguntou: "O que é isso???" (risos). Acredito que o ator é um mutante, a todo instante se transforma, pega parte de uma pessoa que cabe no contexto, partes de si, faz uma junção e daí em diante é só ensaio para aprimorar.

Está fazendo pesquisas para a construção da personagem?

Sim, muitas, a construção é continua ás vezes até no dia de estréia tem algo que enriquece o personagem, eu vou lá e coloco.
Seu personagem traz muitos elementos surpresas. Até para as pessoas que viram a leitura vai ser totalmente diferente ver seu personagem no palco. O que pode nos revelar sem estragar a surpresa do personagem que interpreta?

(risos) Uma das surpresas que o personagem traz é algo pouco comum perante a ciência, mas que é possível, e vem a ser uma realização  para algumas pessoas
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 Entrevista Henrique Bandeira.

Em Transmetrópolis o ator Henrique Bandeira faz Alberto, o marido da travesti Shirley que a surpreende com a notícia da operação de mudança de sexo para virar uma mulher completa. Henrique, que já trabalhou com a Cia de Teatro Popular da Bahia, encarou o desafio de fazer um personagem forte, decidido e com vontade de mudar o quanto for preciso em busca da felicidade. Não sabia ele, que ao interpretar Alberto em Transmetrópolis, seus conceitos sobre sexualidade iriam mudar... e muito!


Alberto, seu personagem em Transmetropolis, é um homem que quer virar mulher, mas como a própria Shirley diz “não existe nenhuma característica de que nele exista uma mulher”. Para você, o que move Alberto a tomar uma decisão tão forte, mesmo convivendo com uma travesti?

Bom, primeiramente quero dizer que esse personagem foi muito difícil para mim, porque tive que quebrar alguns preconceitos internos que nem imaginava que existisse. Respondendo a pergunta, não existe nenhuma característica física e gestual que o remeta a querer ser mulher, porém ele se sente uma mulher internamente e acredito que essa decisão é na realidade o desabafo de alguém que não agüenta mais se aprisionar em cima de uma postura ao qual ele não se sente bem. Se juntar justamente com uma travesti pode ser para ele, como uma válvula de escape, estando com ela talvez ele se aproxime mais do que ele pretende se transformar.

Alberto já foi hétero, pois foi noivo de uma mulher, também já foi gay namorando o Moises, atualmente voltou a ser “hétero” casando com a travesti Shirley e futuramente com a operação de mudança de sexo irá virar uma mulher lésbica, já que deseja manter seu relacionamento com Shirley. Como você acha que o público vai recepcionar as mudanças da sua personagem?

Não faço a menor idéia (risos). Espero que positivamente, acho que as pessoas ainda não tratam de sexualidade com naturalidade e as mudanças sempre assustam, espero que atendam um pouco a cabeça de Alberto.

Você acha que a sexualidade das pessoas pode ser sim volúvel como a do seu personagem que muda a todo o momento?

Sim. Apesar de muita gente achar sexualidade algo complexo e rotular as relações como coisas fixas, acredito que tem pessoas que optam em ser feliz da maneira que der prazer. Se para isso precisar mudar sempre, então que mude para ser feliz.