DesTRAVAndo

Exótica, pevertida, violenta, ignorante, barraqueira...

Esses são os adjetivos aplicados junto a figura da travesti! Essa visão pipoca a todo momento na mídia, principalmente quando esse estereotipo é ligado a escandalos entre celebridades e travestis. Por que um homem, geralmente mantendo um relacionamento estável com "uma mulher de verdade", se interessa por um individuo tão "diferente" do resto da população? Essa pergunta geralmente vem a tona, quando a travesti é a figura central abordada pelos meios de comunicação...
Programas policiais exploram a travesti como um palhaço em potencial a partir de suas atitudes e situações muitas vezes espalhafatosas. A travesti parece ser exagerada por excelencia. Inúmeros são os programas que divulgam este arquétipo, ausiliando de trilha sonora debochada, recortes de imagens para evidenciar momentos pitorescos, dentre outros... Uma dessas "personagens" da vida real, foi a travesti Vanessa, que fez sucesso no You Tube com várias versões da reportagem sobre a confusão entre ela e seu cliente que se recusava a pagar o que faltava do preço total do programa.



Vanessa, ou Vanessão, tem até video game espalhado na web e milhões de visitas e comentários nas páginas do You Tube. Além dela, outras servem - na maioria das vezes em programas jornalisticos de gosto duvidoso - de alívio cômico forçado em meio as reportagens sobre crimes pela cidade. A confusão entre cliente e garota de programa mostrada nas delegacias sempre é tratada com deboche. Outro caso bastante visto no You Tube, descrito como "TRAVESTI x BIGODÃO - Mais um bafafá a la VANESSÃO!" é de uma travesti (que não é identificada na reportagem) em mais uma confusão com um cliente.


Outro caso que ficou muito famoso foi a reportagem do Programa Profissão Reporter sobre prostituição nas ruas do Rio de Janeiro. Em determinados momentos, a reportagem dava foco as travestis do bairro da Lapa. O reporter Felipe Suhre mostra através de Luana como a prostituição no bairro acontece e como é feita a abordagem dos clientes. É durante a madrugada que a reportagem acaba tendo uma surpresa; Luana furiosa acaba batendo em um possível cliente que desiste de um progama.

Vídeos exibindo atos violentos com travestis viraram sucesso em programas populares de cunho policial e no You Tube. O outro lado, se através destes programas dá para pensar em um outro lado, não é posto em evidencia.



Em Transmetrópolis, utilizamos estas reportagens como material para construção e descontrução de personagens e também de arquetipos formulados pela realidade. O material é visto, analisado e inserido dentro da montagem de várias formas. O resultado final você vê em breve.

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Qual a primeira imagem que vem a sua mente quando se
lembra da figura de uma travesti?

Fazendo uma rápida pesquisa no Google, além de outros sites de busca e vídeos, vimos que a figura sempre disponível é o estereotipo da pessoa que sempre se envolve em prostituição, a margem da sociedade, extremamante violenta e está sempre envolta em alguma confusão ou ato ilícito.

A imagem do travesti na mídia mistura fantasia sexuais secretas de homens reprimidos sexualmente com um outro fator, gente perigosa que tem na prostituição o único meio de sobrevivência... Muita gente ainda pensa desta forma, o estereotipo está em programas sensacionalistas, por exemplo, que evidenciam travestis em momentos sempre constrangedores. São blitz policiais, reportagens sobre gangues de "bonecas", ou programas que enfatizam a forma singular como travestis se prostituem, seus clientes e formas de aberdagem "diferentes" de outros profissinais do sexo. Além da ridicularização dessas pessoas através da sua forma exagerada e anormal para parte da população. A travesti na mídia é um ser exótico, pronto para qualquer tipo de ato proibido...

Pensando nisso, Transmetrópolis age de forma diferente, propondo uma outra forma de olhar a travesti através da figura da personagem Shirley. Que tipo de pessoas são mostradas em massa nos meios de comunicação? E que figuras nós queremos mostrar?... Queremos falar sobre sexualidades e de como elas não obedecem a um padrão. O "sexo", não está condicionado a uma condição imutável de um corpo, ele se desdobra, mesmo que conceitos dominantes sejam mostrados a todo momento como normais. Neste ponto, fazemos outra pergunta: O que é normal quando o assunto é sexo? O ato heterossexual? O hétero? Ele é o modelo a ser seguido? Por que?... Mas as pessoas com suas formas de exercer suas sexualidades às vezes não conformam completamente às normas regulatórias. E como vivem essas pessoas que transgridem?...

Este é o mote central de Transmetrópolis. Assunto sério, tratado de forma leve e que fomente um debate sobre o assunto. Aliás, Transmetrópolis não trata somente da figura da travesti e de sua sexualidade, outros assuntos e outras sexualidades são tocadas frente ao espetáculo